quinta-feira, 12 de junho de 2014

Vício


Tenho conseguido ficar limpa por um tempo.
Ilusoriamente, talvez, tenha conseguido ficar sóbria por mais tempo a cada recaída.
Mas, toxicamente, cada retrocesso é mais venenoso, dolorido, enclausurante...
A cada reincidência, a ferida que ainda não estava totalmente curada, torna-se doença.
E cada tragada que dou - depois de um mês a mais que fiquei longe,
Uma semana, um dia, não sei ao certo -, é mais entorpecedora.
Nas cinzas do cigarro, misturadas com as gotas do vinho bordô derramado sobre a mesa,
Em meio à fumaça, letras se juntam diante dos meus olhos numa dança psicodélica
E formam frases que entram pela minha íris e se aglomeram na retina
Terminando em mais uma folha branca arquivada em minha mente.
Na abstinência de ti, injeto, direto na veia, uma dose de lembranças
E instantaneamente, desvanece a dor da fissura por ti, teu cheiro, gosto, tua carne.
Por fim, quase esboço um sorriso e conforto-me nos teus braços na escuridão.