quinta-feira, 21 de abril de 2016

Sobre ser Bela, Recatada e do Lar #sqn

Em momento algum dissemos que há problema em ser bela, recatada e do lar. O problema está na sociedade querer rotular essas características como ideais. O problema está nos homens, as mães, os pais, as tias e avós dizerem para as meninas e mulheres que o ideal e ser exatamente assim. O problema está na diferença que cada uma traz, faz e é. O problema está em não querer ser assim e em não ser. O problema está onde qualquer coisa que seja diferente disso é julgada como errada, torta, quebrada, rebelde. O problema é que ninguém é igual e por mais parecidos que sejam, nenhum ser humano é uma cópia idêntica de outro.
Se você é bela, recatada e do lar, não há problema algum nisso. O problema é você ser assim porque outro quer e não porque você quer. O problema é se você quer impor a todas as outras que sejam assim. O problema é se você não faz parte daquele estereótipo endeusado pela mídia e sociedade atual. O problema é se você é imprudente, impulsiva, livre, dona do próprio nariz e do próprio corpo. Se faz o que bem entende, o que tem vontade, se realiza seus desejos, se faz o que te faz feliz e o que te dá vontade. O problema é se você trabalha fora, se não sabe cozinhar, se não pinta, borda, canta e faz poesias. Se não quer ter filhos. Se usa calças em vez de saias até o joelho, se gosta de roupas pretas e batom vermelho, se tem o cabelo curto, pintado, se gosta de amarrar, se não tem cachos dourados. O problema é que isso tudo é realidade. A realidade de cada uma, a maneira que escolheu viver, a maneira como nasceu ou que se tornou com o tempo e o passar da vida e suas próprias experiências e gostos.
O problema é que quem ataca feministas usa como primeiro "argumento" que "nunca viu uma feminista bonita", só que isso não é argumento. Isso é um ataque. É como crianças que não concordam uma com a outra e chamam de "bobo" e de "feio", mostram a língua e dizem que vão contar pra mãe.
Existem sim mulheres que se dizem feministas que "atacam" homens e fazem discursos de ódio contra eles, tentando proliferar seu sentimento patológico. Mas o feminismo em si nada tem a ver com isso. Feminismo é amor. Por si própria, por suas semelhantes, pelo seu próprio corpo e suas vontades, por sua liberdade; Feminismo é igualdade. É algo pelo qual não se deveria ter que "lutar". É algo que deveria ser nosso de nascença, por direito. Mas infelizmente não é.
Ainda existem homens que acham que temos o dever de ficar com eles quando eles querem e que quando não querem, temos que entender. Mas e quando nós queremos ou não queremos? Quer dizer, nós mulheres não temos querer? Não temos o direito de ter opinião própria, vontade, momento? Os homens têm o direito de ficarem bravos quando dizemos não?
Ainda existem pessoas - nisso incluo homens e infelizmente, mulheres -, que ainda acham que a maneira de se vestir ou de "se portar" é motivo para violência, seja ela sexual ou de outros âmbitos.
Ainda existem homens que passam por nós na rua, mexem e proferem palavras baixas, invadindo nosso espaço e nossa liberdade de ir e vir, nos desrespeitando e ainda se acham no direito de ficarem bravos se não respondemos positivamente ou se simplesmente não respondemos.
Ainda existem homens que ficam com várias mulheres, conhecidas nossas e várias outras desconhecidas mas que, se alguma mulher é solteira e fica com quem bem entende, é considerada puta ou vadia.
Ainda hoje, em pleno século XXI, existem homens nos mesmos cargos que mulheres, que ganham mais que nós. E os cargos de chefia ainda são, em sua maioria, ocupados por homens.
Ainda existem meninas que apanham e ficam de castigo porque querem sair e também ficar com meninos, um comportamento perfeitamente normal para esta idade. E, posso estar errada, mas até o momento, desconheço casos semelhantes que ocorram com meninos...
Os meninos ainda são criados como garanhões e recompensados quando têm comportamentos  machistas em relação às mulheres. Enquanto as mulheres são criadas para serem belas, recatadas e do lar. Mas quando acontece com a nossa, filha, irmã ou mãe, não gostamos, mas não educamos nossos filhos para tratar uma mulher como ela merece ser tratada. Não como melhor que os homens, mas sim como igual. Com os mesmos direitos de tratamento, de escolhas e de respeito.
Não, o problema não é ser bela, recatada e do lar. Tão pouco é ser e fazer qualquer coisa diferente disto. O problema não é ser feia ou bonita, pagar ou não a conta do restaurante. Se depilar ou não. Isso são apenas escolhas ou diferenças que cada ser humanos traz consigo. O problema é não respeitar a escolha das outras pessoas ou como elas são e tentar impor seus próprios costumes ou preferências. Este é o único problema.


Imagem de Fabián Ciraolo

sábado, 16 de abril de 2016

Encaixe


    Imagem de Laura Makabresku


E desde o começo, tu se escondes quando te encontro e eu te fujo quando queres me encontrar.
Mas o destino se ajeita e nos ajeita um jeito de se encontrar.
Passa teu cheiro pelas minhas narinas, através do vento.
Te lembra meu cabelo o alaranjado do entardecer todas as tardes quando sai do trabalho.
Não sei bem se destino seria a palavra certa, não sei bem do que chamar, mas vejo passar, sinto aqui entre nós quando estou bem perto ou mesmo longe. Apesar de que, estamos sempre nos cruzando sem querer por aí...
Às vezes ouço tuas palavras dizerem algo, mas não deixo de notar teu zê-lo ao dizê-as, teu cuidado ao escolhê-las e, obviamente de me perguntar os porquês.
Nessa altura da vida entendo que, pela maneira a qual me respondes e "me vendes" tuas ideias, já pensaste a respeito antes mesmo de eu te perguntar.
Logicamente, também já pensei. Muito mais do que deveria.
Talvez essa esperança ou o restante dela que aqui ainda vive se dê pelo fato de eu já ter vivido.
Pelo fato de eu já ter cicatrizes as quais sararam, mas jamais voltaram a ser brancas como o restante da minha pele. Ficaram rosadas. Lembrando que estão ali, que aconteceram. Mas rosadas, muito mais belas do que um dia já estiveram, vermelhas - apesar de eu gostar de tal intensidade...
Meus pés já percorreram caminhos que se tornaram mais fundos devido às vezes que já passei por eles. E a cada vez que passava, não sei se passava com menos pressa, com um olhar ou pensamento diferente. Mas passei a prestar mais atenção e notar os detalhes...
Não tenho medo de dizer que mudei. Tu, melhor do que ninguém sabes que minha essência continua a mesma. Porém, talvez eu tenha mudado a velocidade dos passos, a maneira de olhar, talvez meus próprios olhos tenham mudado, com o tempo e as vivências.
Não afirmo que estou melhor, talvez não, apesar de acreditar que sim, pois creio que minha maneira de ser foi sendo lapidada com o tempo e não está, nem talvez nunca esteja de fato pronta.
Mas com a vida, as experiências e o tempo, li, ouvi, vi e vivi coisas que me fazem entender que às vezes o teu olhar e o teu jeito de dizer certas coisas não concordam com as palavras que saem da tua boca.
Posso estar totalmente errada e não afirmo que não estou, porém, costumo fazer o exercício de perguntar aqueles em quem confio sobre minhas opiniões, principalmente no que diz respeito a outras pessoas, pelo fato de que não quero me enganar nem tirar conclusões precipitadas. Não quero enxergar apenas pela minha ótica.
Tudo isso me leva a crer que nada em nossas vidas acontece ou aconteceu por acaso. Que tem um motivo para tantos encontros e desencontros. Estamos sendo lapidados pela vida de um jeito que nem sabemos como ou bem certo o porquê.
E apesar de eu ter decidido aceitar e não brigar mais por isso, há momentos em que dói tanto tua ausência, tua distância, que eu passo por cima do que acredito pra, numa busca talvez desesperada, tentar respirar um pouco mais fundo, sentir um pouco mais de realidade de coisas boas. Porque a realidade de coisas ruins está aí, à nossa porta a todo momento. E às vezes só viver realidades duras nos machuca e nos cansa. Talvez até nos endureça ou amoleça de vez. De qualquer forma, às vezes te procuro instintivamente na esperança de respirar mais fundo, olhar mais profundo, sentir mais forte, responder mais intrinsecamente aos meus mais sinceros desejos. Viver de verdade. Coisas boas. E essas tentativas por vezes são frustradas, tortas, feitas de maneiras erradas. Porque saem com tanta vontade, velocidade, força, que não mantém uma linha, um padrão. Mas, deverias compreender isso, assim como compreendo que às vezes falas o que não queres dizer, porque é necessário. Tu deveria saber que às vezes faço isso simplesmente porque não consigo fazer de outro jeito. Às vezes não entendo a tua necessidade no momento, mas posteriormente, sempre entendo. E sempre continuo tentando te entender e entender a mim mesma. Mas a gente sempre se entende...
O fato é que nossos caminhos se cruzam, as coisas acontecem a nossa volta, independente das nossas ações. E nos encontramos por tantas vezes, sempre mais e mais uma vez. E cada vez tu me encanta mais, porque contigo, cada vez me sinto mais eu...
Espero um dia parar de girar, de tentar entender os porquês, de compreender a necessidade das coisas serem ditas e feitas, e parar de ser politicamente correta. Assim como espero que tu também pare, porque talvez eu já esteja começando a deixar de ser.
E com isso, espero que toda essa agitação sossegue e que eu possa descansar no teu colo nem que todo o tempo pare. Nem que o mundo acabe. Que eu possa chegar perto do teu coração nem que tenha que doar o que de bom sobrou no meu pra poder curar o que te dói e o que em ti ainda está ferido. E eu acredito piamente que isso vai acontecer. Porque apesar de a vida ser travessa às vezes, de ficar brincando de ciranda com a gente, ela não é tão mau caráter assim a ponto de enosar tanto nossas histórias e não nos permitir parar para olhar na pupila do outro e nos deleitar com o ser humano completo e inteiro que estará ali diante de nós, em todos os aspectos, como um perfeito molde de tudo que nos faltou até então.