terça-feira, 30 de julho de 2013

É pedir muito?

Eu quero acordar tarde sem despertador ou acordar de madrugada pra fazer qualquer coisa que me agrade. Quero um trabalho que me dê prazer, amigos sinceros inclusive pra me xingar, quando for necessário. Comer meus pratos favoritos e não ter medo de experimentar pratos novos, se a companhia valer a pena. Rir sem motivos, rir inocentemente, rir das malícias da vida e da minha própria desgraça; Rir, gargalhar! Chorar desesperadamente, soluçando quando não aguentar mais tentar ver o lado bom das coisas. Alguém que entenda esse meu choro dramático e concorde comigo, ou discorde, mas me respeite. Ser essa eterna indignada e xingar quando eu tiver vontade, gritar quando achar que preciso. Ser tão louca quanto as pessoas pensam que eu sou, não me importar, não medir as consequências. Parar de me preocupar e fazer cada vez mais o que eu tenho vontade, na hora que der vontade. Extravasar, liberar meus demônios interiores, minha raiva, bater como se fosse na cara da minha tristeza. Libertar meus desejos mais profundos e minhas fantasias mais loucas como se não houvessem julgamentos. Fazer valer as minhas mais verdadeiras vontades, nem que precise de algumas doses de tequila pra isso. Estar perto de pessoas pra quem eu diga: "Vamos?" e me respondam na hora: "Vamos!", sem se importar se é terça-feira ou domingo, cinco da tarde ou três da manhã, sem nem saber pra onde. Gente tão louca quanto eu, que se submeta à minha loucura, que tenha vontade de fazer a sua vontade. Alguém que coma pizza comigo numa segunda-feira, que fuja da academia pra comer chocolate numa terça, que tome um porre numa quarta-feira, faça amor as quatro da manhã de uma quinta, fique em casa vendo tv numa sexta, que faça qualquer coisa em cima da hora no sábado, fique na cama o dia todo no domingo ou que acorde bem cedo pra viajar sem rumo. Que brigue comigo por telefone e venha na minha casa à uma da manhã só pra me abraçar. Entenda a minha solidão repentina às três da manhã de um dia qualquer e me dê colo SEM EU PEDIR. Compre a minha vontade de fazer nada além de ficar na cama durante um fim de semana inteiro. Que não negue minhas carícias no meio da noite, dentro do carro ou na escada do prédio. Que saiba concordar com as minhas ideias sem sentido e ir comigo pro meio do nada, se for o caso. Quero ir pro meio de uma roda punk e headbanguear pra sentir a inexplicável sensação que isso permite. Sentir a vibe das batidas eletrônicas se espalharem pelo corpo e mente sem pensar em mais nada. Ter orgulho de dançar um fandango bem gaudério com um vestido acompanhando meu ritmo. Dançar e cantar com meus amigos, sertanejo, samba ou pagode e rir de mim mesma fazendo isso. Preciso de alguém que me tire da rotina, que saiba me fazer rir quando eu estiver concentrada ou chata, alguém que me tire do tédio, me faça sentir vergonha, o que não é assim tão fácil, que xingue, fale palavrões e me faça sentir tesão apenas com palavras ao pé do ouvido, compre briga comigo, me desafie, diga que eu não sou capaz, me ensine algo novo, me peça pra mudar, me salve do comum! Se não for assim, não vale a pena, é perda de tempo. Se não for assim, é chato e igual a todo mundo. E eu nunca consegui ser igual a ninguém nem me encaixar a nada. E nem quero.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Voando as Tranças

Uma mistura de Rita Lee e Mick Jagger, assim era a minha vó. Usava cabelos vermelhos, pois dizia que era jovem demais pra deixar naturais seus cabelos brancos, que não combinavam com seu espírito jovem. Namorava com o Antônio Fagundes, adorava Julio Iglesias, ouvia música à todo volume e dançava pela casa! Sempre jovem e alegre, ouvia e aconselhava, com toda a sua sabedoria, mas com um jeito leve que me deixava tão à vontade quanto com a minha melhor amiga, da mesma idade; Falava sobre meus pais, meus amores, minha vida, enfim, sobre tudo. Tudo mesmo.

Sempre oferecia um colo onde acariciava meus cabelos, com suas mãos delicadas e sempre geladas - assim como as minhas -, e sua pele cheirosa e macia; Além de uma receita nova qualquer que ela havia aprendido. Estava sempre inventando. Quando eu era pequena, fazia trancinhas em todo o meu cabelo e colava com durex, porque não existiam essas borrachinhas de silicone que tem hoje. (...) Nada como seu feijão com arroz e sua panqueca, ou seu bolo de cenoura com canela e açúcar por cima. Até seu café preto, na hora do Jornal Hoje, tinha um gosto (e cheiro) especial! Deve ser o mesmo "segredo" da minha mãe: carinho.

Desde sempre, fomos uma dupla imbatível na hora de enrolar "negrinhos" fosse pras minhas festas de aniversário ou pras dos primos. Ou então na hora de inventar qualquer receita pros almoços de domingo, com toda a família, que sempre tinha muita risada e confusão e que agora já não são mais os mesmos sem a risada dela, sem a maionese dela, sem o jeitinho dela... De todos os anos que convivi ao seu lado, nem meia dúzia de vezes a vi triste ou emburrada. Herdei dela muitos gostos (ou desgostos), manias e nojinhos. Sempre estive com ela, voando as tranças, como ela dizia.

Mesmo antes de eu nascer, ela já estava lá, mimando minha mãe, e, depois que nasci, a mim. Nunca vi criatura mais carinhosa e dedicada, que vez ou outra soltava uns palavrões e em seguida uma bela gargalhada! Sempre me arrumando, me vestindo de prenda pra ir à escola, muitas vezes indo me buscar e levar, tricotando coletes e polainas, fazendo guardanapos e bicos de pano-de-prato de crochê, oferecendo sua casa quando o clima na minha não estava muito legal. Diferente das outras avós que sempre enxergam seus netos perfeitos, se ela tinha algo pra falar, falava na cara, sem deixar de amar ou elogiar. 

Muita coisa do que sei na cozinha, e na vida, aprendi com ela. Era uma mulher à frente de seu tempo e, ao mesmo tempo, cumpria muito bem o papel de "velhinha" doce e amável. Sempre ia lá em casa fazer um almoço especial no meu aniversário, ouvir minhas queixas e conversar, xingar os outros junto comigo. Nunca mais meus aniversários foram os mesmos. Por mais que mil pessoas me abracem, o abraço dela fará falta, pra sempre. A tatuagem que tenho é pouco pra expressar tudo o que fez por mim, mas, foi a maneira que encontrei de tê-la sempre comigo, além de, no meu coração.

Dizer que te amo pra sempre e que sentirei saudades eternas é muito pouco. Insuficiente perto do que sinto.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Devaneios

Pra espantar o frio, tomo um chimarrão - que de amargo não tem nada -, de erva verde e água quente, que me lembra a grama dos meus devaneios e a água dos nossos banhos quentes, que estão guardados em muitas versões na minha memória (ou imaginação).

Nestas fantasias, acordaríamos aquecidos pelo corpo um do outro, entre fluídos, suores e salivas, entrelaçados - lado a lado, por cima um do outro, tu com o braço debaixo do meu pescoço, eu com uma perna entre as tuas -, depois de cair no sono irresistível, após ver estrelas.

Como numa ressaca de álcool, a preguiça de uma manhã depois de uma noite de desatinos, as cobertas com cheiro de amaciante, cobrindo nossos corpos que mais parecem uma obra de arte, enrolados um no outro, entre pelos, cabelos, bocejos e sorrisos...

Como tu sempre levanta primeiro, iria tomar teu banho nem tão quente quanto o meu, e deixaria a água cair pelo teu rosto, cílios, lábios e cabelos, e as gotas caídas das pontas destes, desceriam pelo teu corpo fazendo uma dança hipnotizante para os meus olhos maliciosos.

Eu morderia os lábios e pensaria que não sou merecedora de tamanho privilégio, este que é te olhar debaixo d'água com os fios dela quente caindo do chuveiro e deliciando-se por cada pedaço do teu corpo que outrora esteve em minha boca.

Não resisto à tentação e junto-me a ti nessa irresistível rotina de deixar o corpo ainda mais sublime do que ele é naturalmente; Ensaboando tuas costas, envolvendo-te e apertando teu corpo entre meus braços como quem deseja nunca mais sair dali!

Enquanto você regula a água do chuveiro pra que fique quente o suficiente pro meu gosto e então cola tua barriga nas minhas costas e ensaboa meu corpo com as tuas mãos - que dão duas das minhas -, e nossos corpos mais parecem duas peças de quebra-cabeça.

Meu corpo todo arrepia-se, sinto um frio na barriga, seguido por um calor repentino que eu não sei ao certo se vem do teu corpo ou da minha imaginação e entrego-me totalmente às tuas intenções, até que você percebe que vamos nos atrasar e dispersa brincando de jogar água em mim.

Eu visto uma calça, uma blusa de lã enorme, um salto qualquer pra alcançar nos teus lábios, um cachecol e um casaco, enquanto você veste uma camisa pólo que deixa a mostra um pedacinho do teu peito, uma calça jeans e uma jaqueta e ri de mim por colocar tanta roupa;

Você ajeita o cabelo com as mãos e comenta que precisa aparar a barba, enquanto eu escovo os cabelos, passo pó no rosto, além de um pouco de blush pra não ficar tão pálida, lápis preto nos olhos, batom vermelho nos lábios e ameaço deixar você, caso resolva tirar a barba.

Preparo teu chocolate quente e meu café com leite, enquanto você prepara os ovos mexidos, e tomamos café da manhã experimentando a cada pouco um pedaço e um gole da refeição do outro, enquanto eu secretamente admiro teu sorriso e este momento.

Seguimos juntos para nossos destinos, com minha mão descansada na tua perna e a tua por cima da minha por todo o caminho e, ao chegarmos, tu se despede com um beijo encantador - enquanto eu acaricio teus cabelos -, e me elogia, enquanto eu rebato e secretamente, sinto gratidão por este momento.

Sigo feliz com um sorriso no rosto durante todo o dia, independente das adversidades, pois sei que de tardezinha falarei sem parar quando entrar no carro, e tu me ouvirás pacientemente além de rir da minha irritação e dizer que vai ficar tudo bem, como sempre.

Depois de especular como foi teu dia, o que comeste, como você está e filosofarmos sobre assuntos diversos até discordarmos, e agora, diferente de antes, concordarmos em discordar, com um sorriso e um beijo finalizando a "discussão",

Pensaremos no que faremos para comer enquanto dividimos o prazer de um chimarrão e filosofamos um pouco mais sobre nossos assuntos em comum e incomuns, ensinando ao outro sobre nossas singularidades e falando sobre nossas epifanias.

Então, enquanto tu cozinha eu tomo banho, e depois passo um hidratante no corpo e no rosto, agora sem maquiagem, do jeito que tu gosta, e visto meu pijama de bolinhas roxas, coloco a minha pantufa e desfruto contigo o agradável prazer de dividir uma refeição feita por ti.

Mais tarde, lavo a louça enquanto tu toma banho, passo um hidratante nas mãos e vou esquentando a cama pra quando tu chegares do banho, repousares em meus braços que te esperaram ansiosos por estes breves minutos a massagear teu corpo e confortar tua mente.

Assistimos qualquer coisa na televisão, até encantarmo-nos um pelo outro novamente e, agora sim, sem horários nem compromissos, mergulhar sem pensar em mais nada além desta satisfação imensurável que é te ter nos meus braços, na minha cama, na minha alma e na minha história...

Talvez seja apenas sonho, desejo ou imaginação. Talvez até já tenha acontecido. Talvez, ainda acontecerá, contrariando os pessimistas e incrédulos; Contrastando com a frieza do mundo real. Talvez, em uma próxima vida, eu possa admirar teu sorriso por todos os dias dela...

Só sei que se um dia quiseres tirar teu sentimento do fundo gaveta onde está guardado, estarei esperando-te com meu mate, fogo no fogão à lenha e meus braços sempre abertos para te aquecer no meu colo, onde poderás ouvir as batidas do meu coração, por ti.

domingo, 21 de julho de 2013

Universo Paralelo

Não é à toa que quando estava contigo, beliscava a mim mesma para tentar descobrir se aqueles momentos eram realmente reais. Gargalhava alto e naturalmente, como uma criança. Até as bochechas doerem! Me perfumava com gosto, enfeitava-me com minhas melhores roupas e meus melhores sorrisos; sorria à toa; cantava sozinha sem sentir vergonha se alguém estava ouvindo. Vivia nas nuvens, inclusive quando não estava contigo porque sabia que você era meu e que cedo ou tarde seria tua novamente. E mesmo antes de te tocar, sentia um magnetismo entre nossos corpos, e mais, entre nossas almas, ou seja lá como queira chamar. Tu sempre completou as minhas frases e os meus pensamentos, sempre esteve lá quando minhas lágrimas caíram, sempre esteve ao meu lado quando ninguém mais se importava...

Desde a primeira vez que te toquei, viajei para um mundo só nosso onde eu não enxergava nem ouvia mais ninguém além de ti. Magnetismo, junção de olhares, sorrisos involuntários, encaixe perfeito do meu corpo entre teus braços, da tua cabeça no meu colo. Sempre houve um brilho à tua volta que me fazia ficar boba e hipnotizada olhando pra ti. Como se não houvesse tristeza, solidão e dor nesse mundo.

Entre tantas conversas, a cada dia que passava eu custava a acreditar mas você se encaixava nos meus sonhos perfeitamente, como se os conhecesse em cada detalhe. Sonhos que eu já havia deixado de lado, de tanto quebrar a cara. Eu já não acreditava mais em contos de fada e príncipes encantados. Mas a cada palavra que você pronunciava eu ficava boquiaberta por perceber que a cada pouco e, nos mínimos detalhes, você se encaixava mais e mais nos meus desejos que até então, pareciam ser inexistentes.

Não, eu nunca pensei direito depois da primeira vez que meus lábios tocaram os teus. Naquela manhã ensolarada de sábado fiquei deitada na cama, paralisada, sem conseguir dormir ou fazer qualquer outra coisa, sorrindo idiotamente e revivendo cada minuto daquela noite. Desde então, toda noite eu dormia imaginando que teu corpo estava encostando no meu, sonhava contigo e acordava feliz, ouvindo músicas que jurava que um dia cantaria pra você. Tornei-me otimista, como nunca antes havia sido. Comecei a sonhar como nunca havia sonhado antes porque como você mesmo disse, sempre fui muito pé no chão. Mas você me ensinou isso. Me ensinou a sorrir independente dos meus problemas, me ensinou a esquecê-los, a ignorá-los, me ensinou a ser doce e que o carinho que eu tinha pra dar podia sim ser retribuído e valorizado, que não era besteira e que eu não precisava mais usar minha "armadura de guerra."

Você me ensinou que não precisava haver guerra, estratégia, escudo nem espada. Me ensinou que é raro, mas que ainda existem pessoas admiráveis que engrandecem os sentimentos e que não tem vergonha de demonstrá-los nesse mundo insano. Ah... você me ensinou tanta coisa! Eu me tornei uma pessoa melhor por tua causa. Mas um pedaço de mim morreu no dia em que você foi embora.

Porém, cada dia que passa minha afeição por ti se torna mais verdadeira! Eu me pergunto até quando será assim, até quando meu coração ficará apertado desse jeito... Já não sei mais como andar no concreto novamente depois de ter andado nas nuvens. Não sei mais como andar em terra firme depois de flutuar através do teu olhar, que ao encaixar no meu, nos faz viajar para outra dimensão, nosso universo paralelo.