quarta-feira, 2 de março de 2016

Abstrato

Só quem está preso em uma cela, uma gaiola, ou com a alma presa dentro da carne
Sabe a dor em que se vive, a dor de ser lapidado, de arrancar pedaços que sangram mas não são seus de fato.
Só quem nasce sabendo o que é certo, sabendo quem é, num lugar errado, numa sociedade de pessoas doentes que preferem "viver" bonitas por fora e quebradas por dentro, sabe o quanto dói lutar para ser a si mesmo, o retrato do que já nasceu.
Só quem é pintado confuso e até errado, sem definições e nem contornos sabe o que é ser abstrato.
Só quem tenta prender um sentimento dentro de si, que luta para não sentí-lo, para não sê-lo, para escondê-lo, sabe o quanto ele escapa por entre os dedos, o quanto transborda nos poros fugindo sorrateiramente de qualquer um que queira extinguir.
Não há murro que machuque mais do que tentar matar um próprio amor ou o amor próprio.
Não há surra na casca, arranhão das pessoas de cabeça pequena e mente fechada e por vezes até daqueles que deveriam amar-lhe tal qual como és, que doa mais do que desejar matar a parte de si próprio que não é você, que não faz parte de ti e do seu todo.
Nada pior do que conviver com um estranho dentro de seu próprio corpo, brigando com seu verdadeiro eu que quer espaço para respirar e até menos que isso, para apenas exercer seu direito nato de ser.
Nenhuma pessoa pode dizer qualquer coisa que seja mais dolorida e triste do que o desejo de matar a si mesmo para assim ficar em paz e poder ter a liberdade e exercer o desejo simples de ser quem realmente se é, se nasceu e lutou por algo que deveria ser óbvio e natural: A própria vida na sua mais absoluta simplicidade.