sábado, 16 de abril de 2016

Encaixe


    Imagem de Laura Makabresku


E desde o começo, tu se escondes quando te encontro e eu te fujo quando queres me encontrar.
Mas o destino se ajeita e nos ajeita um jeito de se encontrar.
Passa teu cheiro pelas minhas narinas, através do vento.
Te lembra meu cabelo o alaranjado do entardecer todas as tardes quando sai do trabalho.
Não sei bem se destino seria a palavra certa, não sei bem do que chamar, mas vejo passar, sinto aqui entre nós quando estou bem perto ou mesmo longe. Apesar de que, estamos sempre nos cruzando sem querer por aí...
Às vezes ouço tuas palavras dizerem algo, mas não deixo de notar teu zê-lo ao dizê-as, teu cuidado ao escolhê-las e, obviamente de me perguntar os porquês.
Nessa altura da vida entendo que, pela maneira a qual me respondes e "me vendes" tuas ideias, já pensaste a respeito antes mesmo de eu te perguntar.
Logicamente, também já pensei. Muito mais do que deveria.
Talvez essa esperança ou o restante dela que aqui ainda vive se dê pelo fato de eu já ter vivido.
Pelo fato de eu já ter cicatrizes as quais sararam, mas jamais voltaram a ser brancas como o restante da minha pele. Ficaram rosadas. Lembrando que estão ali, que aconteceram. Mas rosadas, muito mais belas do que um dia já estiveram, vermelhas - apesar de eu gostar de tal intensidade...
Meus pés já percorreram caminhos que se tornaram mais fundos devido às vezes que já passei por eles. E a cada vez que passava, não sei se passava com menos pressa, com um olhar ou pensamento diferente. Mas passei a prestar mais atenção e notar os detalhes...
Não tenho medo de dizer que mudei. Tu, melhor do que ninguém sabes que minha essência continua a mesma. Porém, talvez eu tenha mudado a velocidade dos passos, a maneira de olhar, talvez meus próprios olhos tenham mudado, com o tempo e as vivências.
Não afirmo que estou melhor, talvez não, apesar de acreditar que sim, pois creio que minha maneira de ser foi sendo lapidada com o tempo e não está, nem talvez nunca esteja de fato pronta.
Mas com a vida, as experiências e o tempo, li, ouvi, vi e vivi coisas que me fazem entender que às vezes o teu olhar e o teu jeito de dizer certas coisas não concordam com as palavras que saem da tua boca.
Posso estar totalmente errada e não afirmo que não estou, porém, costumo fazer o exercício de perguntar aqueles em quem confio sobre minhas opiniões, principalmente no que diz respeito a outras pessoas, pelo fato de que não quero me enganar nem tirar conclusões precipitadas. Não quero enxergar apenas pela minha ótica.
Tudo isso me leva a crer que nada em nossas vidas acontece ou aconteceu por acaso. Que tem um motivo para tantos encontros e desencontros. Estamos sendo lapidados pela vida de um jeito que nem sabemos como ou bem certo o porquê.
E apesar de eu ter decidido aceitar e não brigar mais por isso, há momentos em que dói tanto tua ausência, tua distância, que eu passo por cima do que acredito pra, numa busca talvez desesperada, tentar respirar um pouco mais fundo, sentir um pouco mais de realidade de coisas boas. Porque a realidade de coisas ruins está aí, à nossa porta a todo momento. E às vezes só viver realidades duras nos machuca e nos cansa. Talvez até nos endureça ou amoleça de vez. De qualquer forma, às vezes te procuro instintivamente na esperança de respirar mais fundo, olhar mais profundo, sentir mais forte, responder mais intrinsecamente aos meus mais sinceros desejos. Viver de verdade. Coisas boas. E essas tentativas por vezes são frustradas, tortas, feitas de maneiras erradas. Porque saem com tanta vontade, velocidade, força, que não mantém uma linha, um padrão. Mas, deverias compreender isso, assim como compreendo que às vezes falas o que não queres dizer, porque é necessário. Tu deveria saber que às vezes faço isso simplesmente porque não consigo fazer de outro jeito. Às vezes não entendo a tua necessidade no momento, mas posteriormente, sempre entendo. E sempre continuo tentando te entender e entender a mim mesma. Mas a gente sempre se entende...
O fato é que nossos caminhos se cruzam, as coisas acontecem a nossa volta, independente das nossas ações. E nos encontramos por tantas vezes, sempre mais e mais uma vez. E cada vez tu me encanta mais, porque contigo, cada vez me sinto mais eu...
Espero um dia parar de girar, de tentar entender os porquês, de compreender a necessidade das coisas serem ditas e feitas, e parar de ser politicamente correta. Assim como espero que tu também pare, porque talvez eu já esteja começando a deixar de ser.
E com isso, espero que toda essa agitação sossegue e que eu possa descansar no teu colo nem que todo o tempo pare. Nem que o mundo acabe. Que eu possa chegar perto do teu coração nem que tenha que doar o que de bom sobrou no meu pra poder curar o que te dói e o que em ti ainda está ferido. E eu acredito piamente que isso vai acontecer. Porque apesar de a vida ser travessa às vezes, de ficar brincando de ciranda com a gente, ela não é tão mau caráter assim a ponto de enosar tanto nossas histórias e não nos permitir parar para olhar na pupila do outro e nos deleitar com o ser humano completo e inteiro que estará ali diante de nós, em todos os aspectos, como um perfeito molde de tudo que nos faltou até então.

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