terça-feira, 6 de agosto de 2013

Entrelinhas

Acorda, já não tão cedo, mas sempre com preguiça. É um bicho da cama. Lava o rosto com água fria pra acordar, toma um banho quente. Veste-se geralmente de preto, pois assim sente-se bem. Usa salto para disfarçar sua altura, ou seria a falta dela? Perfuma-se com uma fragrância doce, que adora, revelando assim, traços escondidos da sua personalidade que ela disfarça atrás de olhos pretos e batom vermelho, para tentar não sofrer tanto quanto já...

Põe os fones de ouvido para não ouvir as conversas alheias no ônibus e na rua, nem ouvir o que as pessoas tem a dizer sobre ela; Também para viajar pelo seu universo particular, o qual o ingresso é a música e a poesia, lembranças e anseios. No ponto de ônibus, no elevador, na praça, tudo isso se mistura e as palavras surgem, combinam-se e dançam em sua cabeça. Os plátanos lembram o rosto dele, seu cabelo, sua barba; Um raio de sol lembra o seu sorriso...

Ela mergulha no seu mundo. O das palavras, dos textos, das frases e rimas. Silenciosamente, sente falta dele, mas disfarça. Está triste, mas sorri; Gargalha, desesperadamente talvez. Em silêncio. Ao menos de palavras ditas, mas não de escritas. Se alguém olhar nas suas entrelinhas, saberá. Dói, mas ela faz piada, dela mesma, da desgraça alheia e da dor também, porque não? Ironia.

Luta pelos seus problemas secretos e deploráveis todos os dias, mas escuta as dores alheias e aconselha como se ela mesma não tivesse as suas. É forte como uma pedra, muito mais do que a maioria das pessoas que conhece. Queria ter os problemas dessas pessoas para si, trocaria pelos seus. Reclamam de barriga cheia. A vida é injusta e as pessoas não dão valor para o que têm. Deixam a felicidade passar por não a reconhecerem. Querem proteger as outras e estas lhe apunhalam pelas costas. Pode parecer segura de si, mas já cometeu exatamente esses mesmos erros.

Em contrapartida, é sensível como uma pétala de rosa, que pode ser facilmente despedaçada. Muitas vezes pensa em desistir. Não pensa mais em cortar os pulsos, isso parece demasiadamente dramático agora. Gostaria de simplesmente não acordar de manhã para ter que enfrentar o mundo por mais um dia. Fácil, prático, indolor e silencioso. Podem não acreditar, mas ela sente. Ninguém vê, mas ela chora, como qualquer outro. Pode ser que a achem fechada e séria, mas quando acontece de alguém ser ousado o suficiente para chegar ao seu coração, é carinhosa até demais. E exageradamente engraçada.

O seu maior defeito é que toma as dores dos outros para si. Peneira os problemas, as dores, a realidade, a tristeza, em seu corpo, seu peito, seu silêncio, seu sorriso e em seus olhos, para que não machuque as pessoas que ama. Protege, briga, esconde, evita. E consegue desviar as lâminas afiadas da realidade do alcance daqueles que quer bem. Só não consegue não cortar-se fazendo isso. Mas, como eu disse, ela é exageradamente forte, se recupera, embora as cicatrizes permaneçam...

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