sexta-feira, 26 de julho de 2013

Voando as Tranças

Uma mistura de Rita Lee e Mick Jagger, assim era a minha vó. Usava cabelos vermelhos, pois dizia que era jovem demais pra deixar naturais seus cabelos brancos, que não combinavam com seu espírito jovem. Namorava com o Antônio Fagundes, adorava Julio Iglesias, ouvia música à todo volume e dançava pela casa! Sempre jovem e alegre, ouvia e aconselhava, com toda a sua sabedoria, mas com um jeito leve que me deixava tão à vontade quanto com a minha melhor amiga, da mesma idade; Falava sobre meus pais, meus amores, minha vida, enfim, sobre tudo. Tudo mesmo.

Sempre oferecia um colo onde acariciava meus cabelos, com suas mãos delicadas e sempre geladas - assim como as minhas -, e sua pele cheirosa e macia; Além de uma receita nova qualquer que ela havia aprendido. Estava sempre inventando. Quando eu era pequena, fazia trancinhas em todo o meu cabelo e colava com durex, porque não existiam essas borrachinhas de silicone que tem hoje. (...) Nada como seu feijão com arroz e sua panqueca, ou seu bolo de cenoura com canela e açúcar por cima. Até seu café preto, na hora do Jornal Hoje, tinha um gosto (e cheiro) especial! Deve ser o mesmo "segredo" da minha mãe: carinho.

Desde sempre, fomos uma dupla imbatível na hora de enrolar "negrinhos" fosse pras minhas festas de aniversário ou pras dos primos. Ou então na hora de inventar qualquer receita pros almoços de domingo, com toda a família, que sempre tinha muita risada e confusão e que agora já não são mais os mesmos sem a risada dela, sem a maionese dela, sem o jeitinho dela... De todos os anos que convivi ao seu lado, nem meia dúzia de vezes a vi triste ou emburrada. Herdei dela muitos gostos (ou desgostos), manias e nojinhos. Sempre estive com ela, voando as tranças, como ela dizia.

Mesmo antes de eu nascer, ela já estava lá, mimando minha mãe, e, depois que nasci, a mim. Nunca vi criatura mais carinhosa e dedicada, que vez ou outra soltava uns palavrões e em seguida uma bela gargalhada! Sempre me arrumando, me vestindo de prenda pra ir à escola, muitas vezes indo me buscar e levar, tricotando coletes e polainas, fazendo guardanapos e bicos de pano-de-prato de crochê, oferecendo sua casa quando o clima na minha não estava muito legal. Diferente das outras avós que sempre enxergam seus netos perfeitos, se ela tinha algo pra falar, falava na cara, sem deixar de amar ou elogiar. 

Muita coisa do que sei na cozinha, e na vida, aprendi com ela. Era uma mulher à frente de seu tempo e, ao mesmo tempo, cumpria muito bem o papel de "velhinha" doce e amável. Sempre ia lá em casa fazer um almoço especial no meu aniversário, ouvir minhas queixas e conversar, xingar os outros junto comigo. Nunca mais meus aniversários foram os mesmos. Por mais que mil pessoas me abracem, o abraço dela fará falta, pra sempre. A tatuagem que tenho é pouco pra expressar tudo o que fez por mim, mas, foi a maneira que encontrei de tê-la sempre comigo, além de, no meu coração.

Dizer que te amo pra sempre e que sentirei saudades eternas é muito pouco. Insuficiente perto do que sinto.

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